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terça-feira, outubro 26, 2004

A Multa... 

Falta dinamismo a este Diário. É verdade, sim senhor. O "pequeno" texto que a seguir se segue, é apenas um episódio daquilo que aconteceu comigo no PJ. Entendam o que quiserem e tirem as conclusões que acharem por bem. E comentem, à vontade. A gerência agradece.

De vez em quando, havia entrevistas em Vila do Conde, durante todo o dia. A única vantagem que essas entrevistas tinham, era a de que íamos sozinhos, porque o vendedor já tinha os contratos da publicidade assinados. Ele marcava as entrevistas em espaços de hora ou hora e meia entre cada uma delas e nós conseguíamos organizar o tempo todo. Algumas vezes, estava programada a última entrevista para as 18 horas e, desde as 16 que eu já estava a apanhar banhos de sol numa esplanada qualquer à beira mar. Isso só era possível quando havia grandes intervalos entre as entrevistas e, enquanto esperávamos por uma entrevista, telefonávamos para outro entrevistado no sentido de saber se ele nos podia receber mais cedo. A maioria dizia sempre que sim. E não nos adiantava de nada ir para o Porto mais cedo; se o fizéssemos, ainda tínhamos trabalho pela frente e, ali, isso não acontecia. Num desses dias que eu fui para Vila do Conde, levei um Fiat Punto cinzento que estava atribuído a um comercial. Como ele tinha ido para o Algarve, em serviço, na fantástica DV, eu levei o que lhe estava destinado. Fiz o meu trabalho e fui embora.
Passado cerca de dois meses, aparece uma multa de estacionamento, daquele Fiat Punto, precisamente em Vila do Conde. A multa referia que o carro tinha estado estacionado numa paragem de táxis. Longe de mim estacionar o carro numa paragem de táxis... não o fiz. O que acontece é que uma das secretárias do tio, me atira com o papel da multa para cima da mesa e diz-me que eu tinha que pagar aquela multa. Fiquei furioso, quando sabia de antemão o que acontecia às multas dos carros daquele jornal: a secretária enviava o questionário da multa, preenchido com os dados de um vendedor que já não trabalhasse lá. Quando vinha a multa, ela era devolvida porque não havia ali ninguém a trabalhar com aquele nome.
Como me recusei a pagar a multa, devolvi-a e a coisa ficou por ali, não se falando mais no assunto. Mais uma vez, eu tinha falado com a editora-chefe que me prometeu resolver esse "bico". Nada fez e nada disse. Mas adiante. No final do mês, isto em pleno mês de Julho, a secretária vem dar-nos os cheques do ordenado, pouco faltava para as seis da tarde. Normalmente, recebíamos dois cheques: um, equivalente à miséria do ordenado; outro cheque, era o infortúnio prémio, quando o recebíamos. Naquele mês, a secretária, dá-me um cheque de 99.76 euros, correspondente ao prémio. Nunca tinha ganho esse valor de prémio. Era sempre 24.94, 49.88 e houve, inclusive, um mês que recebi 3.49. No entanto, não me dá o outro cheque de 374.10 euros, referente ao ordenado. Sim, era esse o valor do ordenado dos jornalistas quando entrávamos para ali...
Quando lhe perguntei o motivo para não me dar esse outro cheque, diz-me que o tio precisava de falar comigo. Ele havia-me prometido fazer o contrato de trabalho e eu pensava que era por causa disso. Mais uma vez, inocente. Por volta das sete, diz-me que o tio só me dava o cheque do ordenado se eu lhe desse, em dinheiro, o valor da multa do carro. Fui ao inferno e vim, naquele instante. Quando ela me diz aquilo, eu virei-me para ela e disse-lhe:
- Então, diz ao tio que eu quero falar com ele. - Meia hora depois, entrava eu no escritório do tio, pronto para discutirmos. Não me pediu para me sentar e ali fiquei de pé, o tempo todo, a falar com ele. Pergunta-me o que quero e eu pergunto-lhe porque motivo me reteve o cheque. E, se há coisa que aquele homem sabe, é levar as pessoas na conversa. Nós podíamos entrar ali dentro com a maior razão deste mundo, que ele fazia tudo para no-la tirar e sair vitorioso. Eu não estava nessa disposição e decidi levar a minha teoria avante.
- Eu decidi não lhe pagar enquanto você não liquidar aí uma dívida de uma multa. - Uma dívida. Fiquei estúpido. Respondi-lhe que não era minha obrigação pagar as multas dos carros do jornal, quando nem as multas do meu próprio carro eu pago.
- Não paga? Vamos lá ver uma coisa. Quando você sai com um carro do jornal para qualquer lado, quem é que é o responsável pelo carro? Não é você? - Acenei com a cabeça. - Então, se algo acontece ao carro, a responsabilidade é sua, certo? E, se apareceu uma multa no carro, logo, você é o responsável e tem que a pagar, certo? - Aquela palavra, "certo", começava a dar voltas no meu estômago, principalmente pela forma como ela a pronunciava. É que nem admitia outras hipóteses. A única solução era dar-lhe o dinheiro e acabava ali a confusão. Tudo o que eu dissesse, voltava a dar ao mesmo: responsabilidade e pagamento. Mesmo retorquindo, ele acabava por dar a volta à conversa e voltava ao mesmo. O facto de ele falar sempre em responsabilidade fez com que eu lhe fizesse uma pergunta que o deixou, digamos, enervado, para não dizer, esbaforido.
- Então, suponhamos que eu vou na DV para Lisboa e, em plena auto-estrada, um maluco qualquer, atira-me para fora da estrada. De quem é a responsabilidade? - perguntei eu. Ele, habilmente respondeu que o culpado era o outro condutor. - E se, desse acidente, eu partir um braço ou uma perna, quem se responsabiliza? - Mais uma vez, muito habilmente ele me pergunta:
- O que é que aconteceu com a Sandra? - A Sandra teve dois acidentes de carro, na mesma semana, mas teve a sorte de serem os vendedores que estavam a conduzir. Esteve quinze dias de férias, mais quinze dias de baixa e o tio só lhe deu o cheque do subsídio de férias um mês depois. Quando ele me perguntou o que havia acontecido com a Sandra, eu deduzi que estaria de baixa e que a segurança social se responsabilizaria. No entanto, o que eu lhe disse a seguir, fez com que ele explodisse.
- Mas a Sandra tem contrato de trabalho; eu não tenho. - Aí, ele ficou azul de tão irado que estava.
- Mas o que é que você pensa que isto é? Onde é que você pensa que está? Julga que isto é uma empresa de terceiro mundo ou de alguma República das bananas? Quando para aqui veio, veio na condição de estagiário, certo? Logo, para todos os efeitos, você é um funcionário que está a estagiar nesta empresa. - O homem não falava; gritava de tão esbaforido. E, também eu não falei. Levantei a voz e disse-lhe - Se você o diz, quem eu sou para duvidar mas, voltando à questão anterior que é o que interessa, eu quero saber em que situação ficamos. - perguntei eu.
- Já sabe que, enquanto não nos der o dinheiro da multa, não recebe o ordenado.
- E não admite outra alternativa? Afinal, se a responsabilidade é minha, eu é que tenho de resolver esse problema, não é? E se eu tenho outra forma de o resolver, porque é que não a aceita?
- Que outra solução? - perguntou ele. Uma das coisas boas que os jornalistas têm, é haver um sindicato que, a bem ou a mal, ainda resolve algumas coisitas por nós. Isto, para quem tem a carteira profissional, claro.
- Eu tenho a carteira profissional de jornalista e, se levar o original da multa ao sindicato, eles contactam o Governador Civil e cancelam a multa. - Era aquela a minha alternativa, mas o tio não gostou de saber que eu tinha a carteira profissional.
- E quem é que, aqui dentro, lhe assinou os papeis para você pedir a carteira? - Qual era o problema, se isso tivesse acontecido, apesar de não ser essa a situação? E eu virei-me a ele de novo e respondi-lhe.
- Ninguém aqui dentro me assinou os papeis. Você acha que eu precisava de alguém aqui dentro, para me assinar os papeis? Eu não trabalho só aqui; tenho outras fontes de rendimento. Ou acha que setenta e cinco contos por mês são suficientes para alguém sobreviver? - Aliás, ele sabia que eu escrevia para outros jornais; disse-lho na minha segunda entrevista.
E lá saí eu, em direcção ao Sindicato dos Jornalistas, que por acaso fica ali perto. Contei à Maria José o que se havia passado, entreguei-lhe o original da multa e ela pediu-me que ficasse descansado que, naquele mesmo dia, a multa seria cancelada. Quando regressei ao jornal, disse a uma das secretárias que a multa ia ser cancelada naquele dia. A resposta dela fez-me sentir revoltado.
- E como é que nós sabemos que a multa foi de facto cancelada? - Para mim, naquela altura, já não se tratava de uma questão de dinheiro. Eu tinha decidido levar a minha avante e ia leva-la até ao fim.
- Por mim, podes ficar com o cheque, limpa-lo ao cu, se quiseres, porque eu não preciso dessa merda para nada. A multa vai ser cancelada hoje. Faz o que quiseres. Quando achares que me deves dar o cheque, chama-me. - Virei-lhe as costas e saí. O cheque só me foi dado passadas três semanas porque fui ter com ela e, ironia das ironias, virou-se para mim e disse:
- Ai, eu já to dei. Vou confirmar melhor, mas acho que já to dei. - Ainda por cima, gozava com a minha cara. Lá acabou por me dar o cheque, não sem antes confirmar com o tio se mo podia dar.
Entretanto e, como não sou burro, andei a investigar junto de um primo meu, agente da PSP no Porto. Qual não foi o meu espanto quando ele me garantiu que a multa já havia sido paga por Multibanco. Somando dois mais dois, a única conclusão a que cheguei foi só uma. Afinal, eles queriam que eu lhes desse o valor da multa, em dinheiro, porque ela já estava paga e, dessa forma, podiam meter o dinheiro ao bolso. Contudo, comigo, não levaram a melhor. Nos seis meses seguintes, não tive direito a prémio. Não me interessou; afinal, eu tinha levado a minha avante.

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segunda-feira, outubro 18, 2004

A minh'alma está Parva 

Nestes últimos dias tenho sabido de coisas e tenho escutado coisas que têm vindo a acontecer lá para os lados do Freixieiro (quartel-general do Departamento comercial do PJ), que me têm estarrecido a alma...
Alguém faça chegar àquela gente (não só ao director, mas também aos donos), a informação de que estamos em pleno Estado de Direito. E, por favor, alguém lhes explique conceitos tão básicos como a liberdade de expressão e de opinião.
Aquilo merece, de facto, uma investigação mais aprofundada pela nossa Polícia Judiciária...

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